sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O NASCIMENTO DE UM SUCESSO!!!

Em 20 de Setembro de 1991 à meia noite estreava o espetáculo Cinderela - A história que sua mãe não contou, no teatro Valdemar de Oliveira. Era a primeira vez que a companhia se apresentava em um teatro, mas até a estréia muitas histórias, encontros e acertos fizeram deste espetáculo um marco do teatro do absurdo!!! O horário era meio alternativo, mas foi à única pauta que conseguiram...

Mas para conhecer a fundo a história dessa companhia do barulho teremos que voltar alguns anos... Tudo começou quando o ator Jeison Wallace foi convidado para dirigir a Arara's Dancing Bar e quis fazer algo diferente dos shows de dublagem que normalmente aconteciam. Começou apresentando o show da Negona, baseado no show da Xuxa, com brincadeiras voltadas para o público da boate. Roberto Vasconselos e Flávio Luiz eram suas "pretuxitas". Então em 1990 através da Marquesa primeira e única que dividia o apartamento com Jeyson conheceu o manuscrito de A bicha Burralheira - a estória que sua mãe não contou. Texto que Henrique Celibi já havia montado em 1985 na boate Misty, e de cara viu que aquilo dava panos pra manga. A primeira pessoa convidada pro elenco foi Edilson Rygaard para viver o príncipe, personagem imortalizado pelo ator. Então vieram os outros, Beto Costa, que seria a fada, Luciano Rodrigues que viveria a madrasta, Emerson Nascimento e a Maquesa primeira e única ganharam os papéis da irmãs malvadas. Jô Ribeiro foi convidado para operar a trilha sonora. Horas antes da estréia a Marquesa apareceu "muito doida, entregue as baratas" (palavras de Jeison Wallace), por sorte Flávio Luiz estava ali para ajudar na contra-regragem e então Jeison pediu: “Nega, decore esse texto que a senhora vai entrar em cena”. E foi assim que estreiaram o espetáculo no Arara's Dancing Bar. Um sucesso! Após 3 meses de casa cheia e os apelos do público para eles irem para um lugar maior, decidiram partir para um teatro, mas não foi fácil achar pauta na cidade, o solução foi procurar Reinaldo de Oliveira diretor do Teatro Valdemar de Oliveira que sugeriu um horário alternativo da meia noite, o único disponível.




Com a pauta fechada resolveram mudar o nome da esquete para Cinderela - a história que sua mãe não contou. Então foi preciso esticar a peça, pois ela tinha apenas meia hora, foi aí que surgiu o prólogo para brincar com o público e um baile maior, com algumas dublagens para chegarem a quase 1 hora de duração. Também sentiram a necessidade de incrementar aos espetáculos novos cenários e figurinos, juntos organizaram um "chá de teatro", contando com a ajuda de alguns amigos da classe artística. Poucos dias antes da estréia, Emerson Rodrigues brigou com Jeison e decidiu sair do processo, daí, por outra jogada do destino, Aurino Xavier, que já trabalhava no Cia do Sol, foi à última pessoa a entrar no grupo, numa sugestão de Luciano Rodrigues, que o conhecia desde a universidade. Finalmente estreiaram a meia noite o teatro Valdemar de Oliveria, com a pláteia lotada... de convidados. Afinal todos queriam ver que "Babado" era aquele.

Depois foram abandonados ao léu, com 20 pessoas curiosas a cada noite. Não foi fácil, mas nunca houve uma baixa e o público foi crescendo aos poucos, graças à divulgação que faziam nos bares montados com os personagens. Foi então que criaram a promoção do 50% de desconto pra quem apresentasse ficha telefônica, camisinha, nota fiscal de super mercado ou cupom das lojas Americanas na bilheteria do teatro. Ainda em 1991 lançaram a promoção do alimento não-perecível, dois anos antes da campanha do Betinho ser criada no Rio de Janeiro. Isso foi chamando a atenção de muita gente, porque até então o público era aquele que podia sair de casa perto da meia noite, de carro, sem se preocupar com o valor do ingresso. Um público fino, elegante, que passaram a atrair também, aqueles que não tinham dinheiro. Porém, ninguém achava que iria dar público. Não só pelo horário, mas por ser besteirol.

Tinha muita gente que considerava a Trupe como à escória do teatro pernambucano. Até que no Carnaval de 1992, através do José Mário Austregésilo, receberam o convite para fazer a cobertura do desfile das Virgens do Bairro Novo, em Olinda, pela TV Jornal, e esse foi o grande estouro do espetáculo. Todos quiseram saber que peça era aquela que parecia ser infantil, mas não era. No ano seguinte a diretoria do bloco proibiu e eles foram, então, fazer a cobertura do Galo da Madrugada e assim, Cinderela foi sendo divulgada cada vez mais. Depois desse estouro na TV, surgiram então os especiais de Natal (recorde de audiência) e em seguida o São João da Cinderela e o Cinderela, cem anos depois. A cada aniversário da peça, também preocupados com a questão social, criavam uma festa, com doações de alimentos e utensílios domésticos em troca de desconto no valor do ingresso. Assim foram chamando a atenção da mídia, independente de ser um beiteirol ou uma comédia sem valor. No ínicio só Valdi Coutinho foi o único a escrever sobre o espetáculo, ele entendeu a proposta e colocou na manchete: "Um diversiones retocado". A partir de 1992 começaram a viajar pelo nordeste, com a parceria de muitos amigos produtores, sempre lotando casas de espetáculos, principalmente em Macéio e Natal. Em 93 foram ao Rio de Janeiro a convite do produtor Luís Vilarino, para uma temporada de três meses no teatro da Praia. Mas quase sem espaço na mídia, tendo uma média de 200 pessoas por sessão, o que não foi ruim, por serem um grupo desconhecido e pela enorme quantidade de espetáculos na cidade. Foi no Rio que batizaram o nome das irmãs malvadas de Ruth e Raquel, aproveitando o sucesso de Glória Pires na novela mulheres de areia.





A PRIMEIRA PERDA E SUBSTITUIÇÃO

Ao retorno dessa viagem e terminando a turnê pelo nordeste, Luciano revelou-se bastante doente, com problemas de aneurisma, até vir a falecer no Recife. Essa foi a primeira grande perda. Convocando então, Paulo de Pontes, um excelente ator de espetáculos sérios. E com a vinda de Paulo, entrou de quebra, Célio Pontes, irmão do ator que iria substituí-lo principalmente nas viagens que ele não pudesse ir.

PROJETOS PARARELOS

Em 1993, como Luís Lima pedia para fazer um novo trabalho com Jeison, desde o "Salve-se quem puder", Os dois mantinham uma relação de muito carinho, então ele decidiu montar A casa de Bernada e Alba, a história de uma manicure suburbana, aspirante a cantora, que vive de favor na casa de uma avó paralítica e pornográfica, texto que Henrique Celibi havia escrito um ano antes. A peça estreou no Capibaribe Show, no final daquele ano. Mas no ano seguinte, incentivado por Roberto Costa e Antônio Bernadi, Jeison levou esta nova comédia para o teatro Valdemar de Oliveira. Aurino Xavier foi convidado como ator desde o início, mas já que o retorno dessa temporada não foi boa, os produtores se afastaram e então a peça virou meio cooperativa. A peça só veio ser assinada pela Trupe em 2002, quando montaram um projeto de popularização, o Abril pro Riso, no Teatro do Parque. Nessa remontagem, Rygaard fazia o papel da velha no lugar do já falecido Luís Lima. Com o sucesso do espetáculo nasce então a banda Pão com ovo, da personagem Alba, estourando o frevo: Ôxe mainha.

A MAIOR EMOÇÃO DE CINDERELA

Foi no projeto, Todos com a Nota do Governo de Pernambuco. O susto foi impressionante desde a primeira apresentação ainda no teatro do Parque com cinco mil pessoas na Rua do hospício, todos com uma nota fiscal na mão querendo assistir o espetáculo. O teatro ficou pequeno e resolveram que o ginásio do Geraldão seria ideal para receber um público de aproximadamente 15 mil pessoas.

A TRUPE NA RÁDIO

A idéia partiu da TOP FM, em 1997, uma rádio que estava se lançando e querendo humor na programação. Jeison Wallace foi convidado e convidou Aurino Xavier, Beto Costa e Edilson Rygaard para acompanhá-lo, e Paulo de Pontes participando de algumas pegadinhas. Surgiu assim a "Tarde do Barulho" Ficaram mais de ano com veiculação diária, ao meio-dia. Até que tiveram problema com a Vara da infância e da juventude e o juizado de menores tirou o programa do ar, alegando que incentivavam as crianças ao "homossexualismo". Graças aos advogados voltaram uma semana depois, bem mais suave, mas, pouco depois o programa chegou ao fim.


A SAÍDA DE JEISON WALLACE E A SUBSTITUIÇÃO

Na época, quando havia uma viagem da peça pra perto, assim que o programa acabava, Jeison saía correndo do Recife, dirigindo seu carro, mas teve uma hora que “estilou”, pois estava muito cansado. Nessa noite em que tudo aconteceu, a apresentação seria em João Pessoa, mas todo o elenco já estava lá um dia antes, ou seja, todos estavam descansados e Jeison chegou em cima da hora. A casa estava lotada, como sempre. No Camarim, com Beto Costa, Jeison apenas, desabafou: "Eu estou tremendo por dentro e não tenho condições de fazer o espetáculo". Só que Roberto Costa não entendeu a situação de Jeison e falou algo a respeito da falta de profissionalismo, lembrando que Jeison devia respeitar o público. Mas era por respeito mesmo que Jeison não queria fazer aquela apresentação, já que não estava sentindo-se bem pra dar cambalhota, abrir escala, não parar um só minuto como Cinderela exigia. Naquele momento, achou que Beto deveria ter concordado em cancelar o espetáculo e se sentiu agredido, invadido. Daí respondeu imediatamente: “Então eu não faço hoje e nem nunca mais!” largando tudo e voltando para o Recife. Mesmo com a saída de Jeison, em nenhum momento eles pensaram em parar. De João Pessoa ligaram para o ator José Brito pra saber se ele topava substituí-lo na semana seguinte. O ator estreou como Cinderela no Recife. Depois fez a Paraíba. E mesmo com um estilo diferente, na linha "nega gostosa, Merilyn Monroe". A resposta do público foi boa.



EM SÃO PAULO...

Em 1999, no último ano de Cinderela, a Trupe viajou para São Paulo, numa empreitada bancada por eles. Iriam fazer Santos, onde já haviam estado um ano antes, mas de lá cumpriram turnê por várias cidades da Baixada Santista, até chegarem a São Paulo, totalizando sete meses de viajem. Na capital paulista, apresentaram-se no Teatro Studium, a meia-noite, em seguida, conseguiram uma temporada de três meses no Teatro Ruth Escobar, às 21h, atraindo um público bem melhor. Não tiveram muito espaço na mídia, mas o boca-a-boca de certa forma, funcionou.

O ÚNICO INFANTIL!!!

O curioso é que tanto no Rio como em São Paulo, apesar das dificuldades de mídia, a Trupe teve retorno imediato de fãs. Ainda em Sampa, no finalzinho da temporada resolveram montar um infantil de Paulo André Guimarães, O mistério das outras cores, direcionando às escolas particulares. Foram apenas três ou quatro apresentações no Teatro Pirandello, mas ao chegarem ao Recife, a peça ainda cumpriu temporada no Teatro do Parque. Era um espetáculo extremamente educativo, abordando a disputa de raças, a opressão e a dominação no universo das cores. Mas não era uma fábula, e o público foi pequeno.

O FIM DE CINDERELA...

Quando voltaram de São Paulo, como despedida de Cinderela viajaram com a peça por praticamente todo o nordeste. As duas últimas apresentações aconteceram no Recife, em novembro de 1999, no teatro do Parque, com ingressos esgotados, para em seguida fazer uma nova apresentação na versão 2000 do projeto Janeiro de Grandes espetáculos. Fonte: Trupe do Barulho e Livro Memórias da cena pernambucana Vol. 04 de Leidson Ferraz.

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