OS SINTOMAS
O
primeiro sintoma foi se esquecer de escrever. As
últimas vezes que pegou numa caneta foram para assinar seu nome num documento
que nem lembrava qual era. Foi no dia que passou da fase 147 no Candy Crush. O segundo sintoma foi não conseguir mais falar. Aos poucos
se esqueceu de pronunciar as palavras, primeiro uma, depois outra, depois mais
uma, até que um dia calou-se.
Foi quando seu post sobre um acidente de carro na
Rússia teve mais de mil curtidas no Facebook. Quis gritar de felicidade, mas
não conseguiu. O terceiro sintoma foi a visão, mas não ficou tão
preocupado. Ele quase não olhava para as pessoas, apenas para a tela do
celular, além do mais de perto continuava enxergando muito bem. O quarto e o quinto sintoma, o olfato e o paladar foram
os que menos o afetaram, afinal de contas, ultimamente quase não se alimentava,
se contentava em tirar fotos dos pratos que lhe serviam. O importante era que
todos vissem e sentissem vontade de comer aquelas delicias, mesmo que ele não
sentisse o aroma e muito menos o sabor.
E o sexto e último sintoma foi parar de andar. Quase não saía de casa, não precisava, tudo estava a um clique de distância, a comida, a roupa, os eletrônicos, os celulares de última geração. Para que se levantar do sofá? Não se importou pela falta de movimento das suas pernas, afinal de contas, o carinha do Temple Run corria por ele… Até que um dia parou de postar fotos bizarras, mensagens otimistas, piadas ruins, agradecimentos a Deus, Jesus ou qualquer outra virgem ou santo da sua devoção, mesmo sem ter nenhuma prova de que eles, de vez em quando, davam uma passadinha pelo “Face”, foi nesse dia que morreu. Ninguém perguntou por ele, simplesmente porque estavam mais preocupados em adicionar um novo amigo do que se importar com aquele que já estava na sua lista de contatos há tanto tempo e não tinham a menor ideia de quem era.
E o sexto e último sintoma foi parar de andar. Quase não saía de casa, não precisava, tudo estava a um clique de distância, a comida, a roupa, os eletrônicos, os celulares de última geração. Para que se levantar do sofá? Não se importou pela falta de movimento das suas pernas, afinal de contas, o carinha do Temple Run corria por ele… Até que um dia parou de postar fotos bizarras, mensagens otimistas, piadas ruins, agradecimentos a Deus, Jesus ou qualquer outra virgem ou santo da sua devoção, mesmo sem ter nenhuma prova de que eles, de vez em quando, davam uma passadinha pelo “Face”, foi nesse dia que morreu. Ninguém perguntou por ele, simplesmente porque estavam mais preocupados em adicionar um novo amigo do que se importar com aquele que já estava na sua lista de contatos há tanto tempo e não tinham a menor ideia de quem era.
SAUDADES
Que saudades de olhar para as pessoas, de imaginar quem é aquela linda
moça que se sentou na minha frente no metrô ou que na fila do banco olha o
relógio sem parar. Saudades de dizer com palavras “te amo” e não com um
‘emoticon’ com forma de coração. Saudade de mandar rosas de verdade e abraços
de carne e osso. Saudades de correr sentindo o vento no meu rosto e não pular
montanhas imaginárias, decapitando horrendos monstros que tentam toda hora me
matar num mundo que existe apenas nos meus ágeis dedos.
Saudades de comprar um
telefone apenas para me comunicar e não para fazer tantas coisas que, no final
das contas, nem tenho tempo para fazer. Saudades de tirar fotos de momentos
importantes, aquelas que nunca esqueceremos e não de bobagens, para que outros vejam
e curtam as bobagens que eles compartilharão com um monte de bobos. Saudades de
chutar uma bola de verdade e não de fazer um drible ao Cristiano Ronaldo
vestido de Neymar e fazer o golaço que sempre sonhei e realmente nunca farei.
Saudades de falar com alguém e não ser interrompido pela notificação de que mais um e-mail acabou de chegar.
Saudades de falar com alguém e não ser interrompido pela notificação de que mais um e-mail acabou de chegar.
Saudades de não saber onde ela está, e não ter como
achá-la, mesmo que isso me deixe com o coração na boca. Saudades de
perguntar num posto onde fica tal rua e os frentistas pararem o que estão
fazendo para gentilmente me indicar mil e uma direções diferentes. Saudades de
poder beijá-la no elevador e não dividir esse momento com todo o prédio. Saudades de escrever o que eu quiser sem limite de caracteres e de colar
um selo naquela carta que sempre fico na dúvida se realmente vai chegar. Saudades de… chega de saudades que tenho que
postar este blog, compartilhar com meus amigos, divulgar no Twitter e
enviar milhares de e-mails para meus contatos.
Não esqueçam de me adicionar no
Facebook e no Google+. O Orkut ainda existe? Também estou por lá. O jornalista e
escritor uruguaio Marcelo Puglia, é autor do blog
Amores Imperfeitos
Marcelo Puglia mora em São Paulo desde os anos 80. É especialista em relacionamento amoroso e publicou em toda a América Latina nove livros sobre amor, sexo e infidelidade com muito humor. Vale a pena conferir!!!
Amores Imperfeitos
Marcelo Puglia mora em São Paulo desde os anos 80. É especialista em relacionamento amoroso e publicou em toda a América Latina nove livros sobre amor, sexo e infidelidade com muito humor. Vale a pena conferir!!!
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